Uma nova mostra fotográfica tem chamado atenção de críticos e do público ao trazer para os holofotes imagens pouco conhecidas do patrimônio urbano brasileiro. Intitulada “Memórias Urbanas”, a exposição apresenta registros raros de prédios históricos, praças, vias e outros espaços que marcaram a paisagem das cidades do Brasil. Fotografias antigas e recentes dialogam, revelando as mudanças profundas vividas pelas áreas urbanas nas últimas décadas.

A curadoria da mostra é assinada pela reconhecida pesquisadora Renata Carvalho, que destaca a importância de resgatar lembranças visuais que, muitas vezes, escapam ao olhar atento da população. “Essas imagens nos ajudam a perceber o quanto a cidade é um organismo vivo, em constante evolução, mas também suscetível ao esquecimento”, comenta. O objetivo, segundo Renata, é provocar uma reflexão sobre o valor histórico e afetivo do espaço urbano.

Além das fotos de arquivo, a mostra inclui trabalhos de fotógrafos contemporâneos que registram, por meio de diferentes técnicas, a atual condição de edifícios antes emblemáticos e, hoje, muitas vezes ignorados ou descaracterizados. Essa abordagem estimula o público a considerar não apenas a beleza das estruturas originais, mas também o impacto do tempo e do desenvolvimento urbano desenfreado sobre elas.

Uma das imagens que mais chama a atenção retrata o antigo Cine Odeon, outrora ponto de encontro da sociedade local, atualmente transformado em estacionamento. O contraste entre o passado vibrante e a utilidade cotidiana atual evidencia a perda de espaços culturais para usos práticos. Historiadores urbanos afirmam que esse fenômeno se repete com frequência preocupante em várias capitais brasileiras.

Os números corroboram essa preocupação. De acordo com levantamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), mais de 30% dos prédios tombados registrados nos anos 1980 foram descaracterizados ou demolidos desde então. Isso ilustra a urgência em promover iniciativas que valorizem e protejam esses marcos arquitetônicos e históricos.

A exposição também oferece uma série de depoimentos de moradores que testemunharam as transformações de suas cidades ao longo das últimas décadas. Em vídeos e áudios, eles compartilham memórias afetivas ligadas a locais que já não existem ou mudaram radicalmente. Esses relatos enriquecem a experiência do visitante, tornando o debate ainda mais próximo da realidade cotidiana.

Além de promover a apreciação estética das imagens, a mostra busca incentivar uma atuação mais ativa dos cidadãos na conservação do patrimônio. Oficinas, palestras e visitas guiadas fazem parte da programação, engajando estudantes, professores e famílias na discussão sobre preservação urbana. “A cidade é de todos, e sua história também”, reforça a curadora Renata Carvalho.

O impacto da mostra já pode ser sentido na mobilização de diferentes setores da sociedade. Organizações não-governamentais e associações de moradores têm buscado apoio para criar projetos de restauração e conscientização. O diálogo entre poder público e comunidades é fundamental para que a memória urbana não seja definitivamente apagada pelo progresso, conforme afirmam especialistas em patrimônio cultural.

Ao reunir passado, presente e perspectivas para o futuro das cidades brasileiras, a mostra “Memórias Urbanas” se consolida como convite à reflexão coletiva. Ela provoca uma necessária tomada de consciência sobre a importância de conhecer e preservar a história viva inscrita nos espaços que habitamos. Assim, o evento reafirma o papel da fotografia como instrumento fundamental de registro, denúncia e transformação social no contexto urbano do país.